quinta-feira, agosto 31, 2006
Acalanto
Dali
Acalanto
Ada Ciocci
Vai amado.
Busca por onde quiseres,
com quem quiseres,
como quiseres,
o prazer.
Até mesmo,
aquele prazer que um dia alguém apelidou de amor.
E, se por acaso te cansares e,
do compromisso que um dia nos uniu te lembrares,
se desejares, volta.
Serei a que conforta.
Não saberás da dor,
da saudade,
das lágrimas sentidas que tua ausência causou
quarta-feira, agosto 30, 2006
ESTÁTUA DE FOGO
Estou copiando todo esse post,
inclusive a imagem,
do blog A palavra e o canto.
A poesia é do autor do blog
Aníbal Raposo, de
Ponta Delgada, Açores, Portugal.
ESTÁTUA DE FOGO
Tu és assim como um luzeiro
Que ilumina a minha noite por inteiro
A nascente d' água da minha fajã
O meu sonho, a minha estrela da manhã
És o araçá mais saboroso
És a ponta de saudade que dá gozo
Como um lenço que me acena à despedida
És o sal com que eu tempero a minha vida
Refrão
Olha p'ra mim! Sou uma estátua a arder
Deitaste-me fogo, vem-me arrefecer
Eu quero voar bem alto, em liberdade
Quem semeia o vento colhe a tempestade
Tu és o mar do meu desejo
És assim o monte do meu Alentejo
Como um sol que morre em sangue no Escalvado
Tens o som duma guitarra no meu fado
terça-feira, agosto 29, 2006
AH! A ANGÚSTIA, a raiva vil, o desespero
De não poder confessar
Num tom de grito, num último grito austero
Meu coração a sangrar!
Falo, e as palavras que digo são um som
Sofro, e sou eu.
Ah! Arrancar à música o segredo do tom
Do grito seu!
Ah! Fúria de a dor nem ter sorte em gritar,
De o grito não ter
Alcance maior que o silêncio, que volta, do ar
Na noite sem ser!
Fernando Pessoa
domingo, agosto 27, 2006
VERSOS ÍNTIMOS
VERSOS ÍNTIMOS
Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera
-Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
quinta-feira, agosto 24, 2006
Vinde a mim as criancinhas
terça-feira, agosto 22, 2006
Uma xícara de Chá
Uma xícara de Chá
Nan-In, um mestre japonês durante a era Meiji (1868-1912),
recebeu um professor de universidade que veio lhe inquirir sobre Zen.
Este iniciou um longo discurso intelectual sobre suas dúvidas.
Nan-In, enquanto isso, serviu o chá. Ele encheu completamente a xícara
de seu visitante, e continuou a enchê-la, derramando chá pela borda.
O professor, vendo o excesso se derramando, não pode mais se conter e disse:
"Está muito cheio. Não cabe mais chá!"
"Como esta xícara," Nan-in disse, "você está cheio de suas próprias opiniões e
especulações.
Como posso eu lhe demonstrar o Zen sem você primeiro esvaziar sua xícara?"
domingo, agosto 20, 2006
Estão Se Adiantando
Cezanne
Estão Se Adiantando
Affonso Romano de Sant’Anna
Eles estão se adiantando, os meus amigos.
Sei que é útil a morte alheia
para quem constrói seu fim.
Mas eles estão indo, apressados,
deixando filhos, obras, amores inacabados
e revoluções por terminar.
Não era isto o combinado.
Alguns se despedem heróicos,
outros serenos. Alguns se rebelam.
O bom seria partir pleno.
O que faço? Ainda agora
um apressou seu desenlaçe.
Sigo sem pressa. A morte
exige trabalho, trabalho lento
como quem nasce.
Berço do Fim
Berço do Fim
Silvia Schmidt
Eu não vim para dizer-te adeus,
Eu vim apresentar-te o que me resta:
Esta tristeza e os restos de uma festa,
Esta mortalha e estes olhos meus.
Eu não vim para chorar a morte
Nem a lembrança do que se acabou,
Menos ainda o que de nós ficou
Em algum plano ... sem final, sem norte ...
Eu vim apenas para olhar teu rosto,
Hoje somente mais um sonho em mim.
Constatação talhada no desgosto
De ver que tudo sempre acaba assim:
No meu silêncio interno sempre posto
Naquele berço onde repousa o fim ...
quarta-feira, agosto 16, 2006
Atitude
Gogh
Atitude
Cecília Meireles
Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.
O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.
Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.
E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.
segunda-feira, agosto 14, 2006
Eterna mágoa
Degas
Eterna mágoa
Augusto dos Anjos
O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!
Não crê em nada, pois, nada há que traga
Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.
Quer resistir, e quanto mais resiste
Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.
Sabe que sofre, mas o que não sabe
É que essa mágoa infinda assim, não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda
Transpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda!
quinta-feira, agosto 10, 2006
Meu Pai
Meu Pai
Neste mundo com tantas dificuldades, encontrar pessoas dignas de respeito é algo quase impossível.
Eu tive a sorte de ter tido um pai, que só me deixou boas lembranças, e ótimos exemplos.
Um pai em quem eu confiava, e que confiava em mim.Um pai de quem até hoje falo com orgulho. Um pai amigo, que compreendia os meus problemas, e que nunca me fez sentir menor quando não conseguia realizar alguma coisa, e que não exigia nada acima da minha capacidade. Enfim, quero deixar aqui esse sentimento que guardo em mim. Sentimento de amor e de gratidão. Sentimento que a gente, quando tem o pai ao lado, não se lembra de falar por considerar natural. Acredito no entanto que ele devia saber o que eu sentia. Espero de coração que sim.
Ponho aqui hoje em homenagem a esse pai uma música que ele gostava muito, e que quando ouço me lembro dele. A noite do meu bem, de Dolores Duran.
quarta-feira, agosto 09, 2006
Maria de Nazaré
Uma homenagem à Nossa Senhora,
com uma linda canção.
Maria de Nazaré
Padre Zezinho
Maria de Nazaré, Maria me cativou
Fez mais forte a minha fé
E por filho me adotou
As vezes eu paro e fico a pensar
E sem perceber, me vejo a rezar
E meu coração se põe a cantar
Pra Vigem de Nazaré
Menina que Deus amou e escolheu
Pra mãe de Jesus, o Filho de Deus
Maria que o povo inteiro elegeu
Senhora e Mãe do Céu
Ave - Maria, Mãe de Jesus!
Maria que eu quero bem,
Maria do puro amor
Igual a você, ninguém
Mãe pura do meu Senhor
Em cada mulher que a terra criou
Um traço de Deus Maria deixou
Um sonho de Mãe Maria plantou
Pro mundo encontrar a paz
Maria que fez o Cristo falar
Maria que fez Jesus caminhar
Maria que só viveu pra seu Deus
Maria do povo meu
segunda-feira, agosto 07, 2006
A Rua dos Cataventos
A Rua dos Cataventos
Mário Quintana
Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!
Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
sexta-feira, agosto 04, 2006
A um ausente
Dali
A um ausente
Carlos Drummond de Andrade
Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade,
sem prazo, sem consulta sem provocação,
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar ...
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais,
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
terça-feira, agosto 01, 2006
DESPEDIDA
DESPEDIDA
Silvia Schmidt
Estou saindo como sai o feto:
fora de tempo, mudo e abortado.
E só antevejo num caminho reto
o que me espera em tom silenciado.
Muda partida, o sangue quase frio.
O coração, aos poucos, quase inerte,
num repicar ausente e tão sombrio,
sofrendo as dores deste meu "perder-te".
Quisera ser tão alto quanto as rochas,
para encontrar alívio junto ao céu,
que eu só encontrava assim entre tuas coxas,
quando encobertas por um fino véu.
... Mas vejo apenas estas marcas roxas
que tu deixaste neste corpo meu.
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