sábado, setembro 30, 2006

 

BALADA DA IRREMEDIÁVEL TRISTEZA


BALADA DA IRREMEDIÁVEL TRISTEZA
Abgar Renaut

Eu hoje estou inabitável...
Não sei por quê,
levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou
como uma colherada de fel;
a tristeza de vários corações bem tristes
veio, sem quê, nem por que,
encher meu coração vazio...vazio...
Eu hoje estou inabitável...

A vida está doendo...doendo...
A vida está toda atrapalhada...
Estou sozinho numa estrada
fazendo a pé um raid impossível.

Ah! se eu pudesse me embebedar
e cambalear...cambalear...
cair, e acordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe...
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus, se for preciso:
eu hoje estou inabitável...

segunda-feira, setembro 25, 2006

 

Funeral de um lavrador


Diego Rivera

Funeral de um lavrador
Chico Buarque, sobre poema de João Cabral de Mello Neto

Esta cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho nem largo nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada não se abre a boca



quinta-feira, setembro 21, 2006

 

Esquecimento



Esquecimento
Olegário Mariano

Para quem pelo amor se martiriza
E perde pelo amor o último alento,
Dizem que o bem melhor é o esquecimento
Que se não cura o mal, o mal suaviza.

Como esquecer se há um fixo pensamento
Que á mulher que se amou nos escraviza?
Ela está presa a nós pelo tormento
Em tudo, até no chão que a gente pisa.

Como esquecer alguém que está presente
Na nuvem que o crepúsculo escurece,
Numa folha que tomba na corrente?

Como fugir á dor de ouvi-la e vê-la?
Maldito esquecimento que se esquece
Que é mais fácil morrer do que esquece-la.

segunda-feira, setembro 18, 2006

 

RIO DE JANEIRO


Uma linda foto que recebi num e-mail e que me encantou.
Como o Cristo vê o Rio.

sexta-feira, setembro 15, 2006

 

Além-tédio


Picasso

Além-tédio
Mário de Sá Carneiro

Nada me expira já, nada me vive ---
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.

Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!

Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.

E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...


quarta-feira, setembro 06, 2006

 

Tédio


Klint

Tédio
Florbela Espanca

Passo pálida e triste. Oiço dizer
"Que branca que ela é! Parece morta!
"E eu que vou sonhando, vaga, absorta,
Não tenho um gesto, ou um olhar sequer...

Que diga o mundo e a gente o que quiser!
-O que é que isso me faz?... o que me importa?...
O frio que trago dentro, gela e corta
Tudo que é sonho e graça na mulher!

O que é que isso me importa? Essa tristeza
É menos dor intensa que frieza,
É um tédio profundo de viver!

E é tudo sempre o mesmo, eternamente...
O mesmo lago plácido, dormente dias,
E os dias, sempre os mesmos, a correr...

sexta-feira, setembro 01, 2006

 

Fotografia e texto de Anna Prado do blog Luz Fugaz

Luz branca que entardece nas malhas oceânicas de um Atlântico inteiro.
Olhas a vastidão imensa e ensaias o sonho. Não consegues.
Não sabes mais como se faz. Nem o ensaio, quanto mais o sonho.

Luz branca que entardece nas malhas titânicas do marasmo que, por inteiro,
embala a torpe dormência em que duras. Oh tu que sou, olha o dia que passa...

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